Nome do evento: Autores e Idéias - Palestra
Dia/mês 16 de agosto
Horário 20:00 h
Local Espaço da Arte
Promoção: SESC
OS LIVROS QUE AMAMOS - com ADRIANA LUNARDI e CÍNTIA MOSCOVICH
Desde que comecei a participar de eventos literários e ler em voz alta textos que são feitos para o silêncio, pude perceber melhor minha relação com os livros; não me refiro aos que escrevo, mas àqueles que leio. A lista dos livros mais influentes em nossa formação é tema comum nessas horas. Nada a reclamar. As leituras que fizemos no passado, os títulos que amamos na infância e que somos capazes de apontar, entre tantos, como sendo os prediletos, podem fornecer um mapa importante de nosso imaginário.
Foram três os livros que começaram a definir meu gosto literário e, por assim dizer, o repertório inicial de minha própria biblioteca. Na ordem, de trás para frente: “O alienista”, de Machado de Assis, “Robinson Crusoe”, de Daniel Defoe e “Henriqueta, a espiã”, de Louise Fitzhugh. O que tem de resumida, tem de curiosa essa lista, descobri, desde que passei a recitá-la quando surgia o tema.
Se os dois primeiros títulos não carecem de apresentação, graças à merecida fama que conquistaram junto ao público, um silêncio interrogativo é a reação habitual do interlocutor quando arrolo Henriqueta, a espiã entre minhas leituras mais marcantes. De fato, nem escritores, nem professores parecem reconhecer o título, o que passou a constituir um mistério para mim.
Nas primeiras vezes em que deparei com essa solidão de leitora, tive o ímpeto de trocar de título para tornar-me mais comunicativa. Sem prejuízo à verdade, poderia mencionar Julio Verne, no lugar de Fitzhugh, e completar o trio com mais um autor clássico. Se mudasse o título, contudo, não estaria mais falando de uma leitura transformadora, mas apenas de livros importantes.
Embora tendo decidido sustentar minha escolha inicial e validar Henriqueta, intimamente comecei a suspeitar de minha própria leitura.
Talvez fosse um mau livro, pensei, tentando antecipar o motivo da impopularidade da personagem que eu amara. Para esclarecer a dúvida, teria necessariamente que voltar ao livro, relê-lo.
Assim, mesmo que estivesse em jogo a minha reputação de leitora, uma vaidade entre tantas, resolvi investigar acerca do livro que tanto me havia marcado a infância. Estava disposta a aceitar a minha ingenuidade e mesmo me perdoar por um possível gosto duvidoso cultivado na época em que o brilho de certos metais tem mais charme do que o valor que lhes corresponde. Acharia até certa graça se o livro fosse rosado demais, salpicado pela pieguice de certa má literatura, infelizmente comum nos tempos de escola.
Se ninguém conhecia Henriqueta, eu raciocinava, talvez ela não merecesse ter entrado para a história da literatura. Para minha grande alegria, a releitura de Henriqueta justificou aquele primeiro impacto. O fato de pouca gente tê-lo lido não deveria desabonar o livro.
Embora o passar do tempo tenda a domesticar esse princípio, a opinião literária também deve considerar a intuição. O velho “gosto” é um poderoso instrumento de navegação. Porque livros servem para a vida, mas servem também para que gostemos de livros.
Henriqueta me levou a Robinson Crusoe que me levou a Machado. E todo livro novo que leio quer continuar essa tradição. Pois a maior repercussão daquele livro sobre mim foi, sem dúvida, a exigência que passei a ter como leitora.
A importância dos livros que amamos será o tópico da minha abordagem nos encontros do Sesc.
Adriana Lunardi
Pretende-se abordar o tema “Vozes femininas” sob um enfoque atualizado e que obrigatoriamente se relaciona às novas conclusões acerca das discussões sobre gênero e as diversas artes, com ênfase óbvia nas ligações entre o feminino e a literatura.
A discussão acerca da existência de uma voz feminina ou de uma marca de gênero feminino na obra criada — seja ela qual for — conclui que adjetivações somente restringem a compreensão do fenômeno. Ou seja: a cada vez que se fala de um uma suposta “literatura feminina” ou “literatura homessexual” ou “literatura gaúcha”, ou o que seja, perde-se rapidamente a noção de conjunto e a ideia de que a literatura — a arte — é um fenômeno sistêmico, que ganha força exatamente pela unidade.
Fazendo-nos mais claros. Entender a literatura como uma grande árvore, da qual, digamos, a literatura feminina seria uma parte — um dos galhos —, é fracionar um sistema absolutamente orgânico e inteiro. Pode-se crer que, pelos frutos, se conheça a árvore, mas, diferente de uma maçã ou de uma laranja, o texto literário não deixa clara sua origem, muito menos a mão que o teceu, se de homem, de mulher, de homossexual ou de qualquer outra divisão da humanidade que se queira fazer.
Ao mesmo tempo, e por razões óbvias, pode-se discutir o que seja uma voz feminina na atualidade. Uma vez que a mulher conquista seu espaço, servindo inclusive como mão de obra produtora, a discussão ganha novos matizes.
Cíntia Moscovich
Desde que comecei a participar de eventos literários e ler em voz alta textos que são feitos para o silêncio, pude perceber melhor minha relação com os livros; não me refiro aos que escrevo, mas àqueles que leio. A lista dos livros mais influentes em nossa formação é tema comum nessas horas. Nada a reclamar. As leituras que fizemos no passado, os títulos que amamos na infância e que somos capazes de apontar, entre tantos, como sendo os prediletos, podem fornecer um mapa importante de nosso imaginário.
Foram três os livros que começaram a definir meu gosto literário e, por assim dizer, o repertório inicial de minha própria biblioteca. Na ordem, de trás para frente: “O alienista”, de Machado de Assis, “Robinson Crusoe”, de Daniel Defoe e “Henriqueta, a espiã”, de Louise Fitzhugh. O que tem de resumida, tem de curiosa essa lista, descobri, desde que passei a recitá-la quando surgia o tema.
Se os dois primeiros títulos não carecem de apresentação, graças à merecida fama que conquistaram junto ao público, um silêncio interrogativo é a reação habitual do interlocutor quando arrolo Henriqueta, a espiã entre minhas leituras mais marcantes. De fato, nem escritores, nem professores parecem reconhecer o título, o que passou a constituir um mistério para mim.
Nas primeiras vezes em que deparei com essa solidão de leitora, tive o ímpeto de trocar de título para tornar-me mais comunicativa. Sem prejuízo à verdade, poderia mencionar Julio Verne, no lugar de Fitzhugh, e completar o trio com mais um autor clássico. Se mudasse o título, contudo, não estaria mais falando de uma leitura transformadora, mas apenas de livros importantes.
Embora tendo decidido sustentar minha escolha inicial e validar Henriqueta, intimamente comecei a suspeitar de minha própria leitura.
Talvez fosse um mau livro, pensei, tentando antecipar o motivo da impopularidade da personagem que eu amara. Para esclarecer a dúvida, teria necessariamente que voltar ao livro, relê-lo.
Assim, mesmo que estivesse em jogo a minha reputação de leitora, uma vaidade entre tantas, resolvi investigar acerca do livro que tanto me havia marcado a infância. Estava disposta a aceitar a minha ingenuidade e mesmo me perdoar por um possível gosto duvidoso cultivado na época em que o brilho de certos metais tem mais charme do que o valor que lhes corresponde. Acharia até certa graça se o livro fosse rosado demais, salpicado pela pieguice de certa má literatura, infelizmente comum nos tempos de escola.
Se ninguém conhecia Henriqueta, eu raciocinava, talvez ela não merecesse ter entrado para a história da literatura. Para minha grande alegria, a releitura de Henriqueta justificou aquele primeiro impacto. O fato de pouca gente tê-lo lido não deveria desabonar o livro.
Embora o passar do tempo tenda a domesticar esse princípio, a opinião literária também deve considerar a intuição. O velho “gosto” é um poderoso instrumento de navegação. Porque livros servem para a vida, mas servem também para que gostemos de livros.
Henriqueta me levou a Robinson Crusoe que me levou a Machado. E todo livro novo que leio quer continuar essa tradição. Pois a maior repercussão daquele livro sobre mim foi, sem dúvida, a exigência que passei a ter como leitora.
A importância dos livros que amamos será o tópico da minha abordagem nos encontros do Sesc.
Adriana Lunardi
Pretende-se abordar o tema “Vozes femininas” sob um enfoque atualizado e que obrigatoriamente se relaciona às novas conclusões acerca das discussões sobre gênero e as diversas artes, com ênfase óbvia nas ligações entre o feminino e a literatura.
A discussão acerca da existência de uma voz feminina ou de uma marca de gênero feminino na obra criada — seja ela qual for — conclui que adjetivações somente restringem a compreensão do fenômeno. Ou seja: a cada vez que se fala de um uma suposta “literatura feminina” ou “literatura homessexual” ou “literatura gaúcha”, ou o que seja, perde-se rapidamente a noção de conjunto e a ideia de que a literatura — a arte — é um fenômeno sistêmico, que ganha força exatamente pela unidade.
Fazendo-nos mais claros. Entender a literatura como uma grande árvore, da qual, digamos, a literatura feminina seria uma parte — um dos galhos —, é fracionar um sistema absolutamente orgânico e inteiro. Pode-se crer que, pelos frutos, se conheça a árvore, mas, diferente de uma maçã ou de uma laranja, o texto literário não deixa clara sua origem, muito menos a mão que o teceu, se de homem, de mulher, de homossexual ou de qualquer outra divisão da humanidade que se queira fazer.
Ao mesmo tempo, e por razões óbvias, pode-se discutir o que seja uma voz feminina na atualidade. Uma vez que a mulher conquista seu espaço, servindo inclusive como mão de obra produtora, a discussão ganha novos matizes.
Cíntia Moscovich
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