Por Leandro Czerniaski*
1,3 milhões de brasileiros votaram e elegeram o palhaço Tiririca para a Câmara dos Deputados. Assim, o menino de nome Francisco Everardo Oliveira Silva, nascido em Itapipoca, no Ceará, e que, desde a infância trabalhou em circos, elegeu-se o deputado federal mais votado nestas eleições por São Paulo.
A previsibilidade de sua campanha não nos trouxe nenhuma surpresa: Tiririca se elegeu e ainda puxou mais três deputados. Mas o que nos deixa mais agoniado não é o uso do pobre coitado em uma estratégia eleitoral dos partidos aliados, mas sim o fato de o palhaçinho ter feito a maior votação destas eleições, ameaçando até mesmo a tirar o recorde do Enéas, (lembram?) que em 2002 fez 1,5 milhão de votos.
O que me deixa mais tiririca da vida, sem querer ser irônico, é que não obstante dos juízos feitos dele enquanto candidato, agora ainda querem tornar ilegítima uma vontade popular Se antes a campanha do Tiririca possuía um tom negativo sendo considerada tanto a personificação da desmoralização política quanto a vontade de eleitores em repudiarem atitudes corruptas com um voto de protesto; agora que a profecia se confirma o tom é ainda mais negativo e o julgamento e acusações que pesam sobre Tiririca são ainda maiores: no dia 14 ele terá de provar que sabe ler e escrever. Se ele é, de fato, analfabeto, ensinar um palhaço a ler em menos de duas semanas é missão que nem o Mobral consegue cumprir, do contrário, a vontade de 1,3 milhões de pessoas será nula, ilegítima.
Ora, um palhaço, um jogador de futebol, a mulher pêra, mamão, melão, jaca... todos têm o mesmo direito de que qualquer outra pessoa em se candidatar a um cargo público. E isso não coloca em risco nossa democracia, ao contrário, é um exemplo de que os direitos são iguais para todos, ficando a eleição destes a cargo da vontade dos eleitores.
Não que eu defenda o dito Tiririca, os boleiros e as mulheres frutas na política. Tomo a liberdade de parafrasear Millôr e dizer que não sou nem contra a nem a favor, muito pelo contrário. Às vezes me pego imaginando os gregos, homens fortes, robustos, inigualáveis intelectuais que um dia inventaram a tal da politéia para melhor administrar suas polis. Ah, os gregos, clássicos, sentiriam um pinguinho de vergonha se soubessem que anos depois um palhaço, ou uma mulher semi-nua, estaria ocupando vossos lugares.
Mas enfim, não percamos de vista o assunto. Escrevo tudo isto para mostrar a minha indignação, algumas coisas que acontecem nesta política e que me deixam tiririca de bravo. Um exemplo é a nossa Assembleia Legislativa, que se auto denomina "casa dos paranaenses". Ah, por favor, senhores deputados, ultimamente essa foi a casa da mãe Joana, a casa mal assombrada, mas em momento algum foi a minha casa, pois eu não sou representado por um bando de crápulas que a qualquer custo querem estar no poder, utilizam-se de meios ilícitos para contratar o parente, o amigo, o vizinho, o papagaio, e por aí vai, e ainda por cima têm a coragem de se candidatarem para mais um pleito.
Escrevo não para detonar ou idolatrar o palhaço que a partir de 2011 assume a Câmara, mas para alertar a nós mesmos, paranaenses, que, se São Paulo tem o Tiririca, nós temos o Justus, o Curi e tantos outros que participaram, ou mesmo se calaram diante das acusações na Assembleia Legislativa.
Os números estão aí e mostram. Como se não bastasse reeleger 65% dos atuais deputados estaduais, ainda colocamos lá os herdeiros, candidatos com sobrenomes como Anibeli, Brandão, Lupion, Silvestri e Litro. Como se as denúncias e escândalos de corrupção não fossem suficientes para limpar a "casa dos paranaenses": assim, candidatos cultuam nossa ignorância e nos vestem com nariz vermelho e roupa colorida.
Mas já que a "renovação" foi abaixo da esperada, cabe a nós paranaenses ficarmos mais quatro anos carreando os fantasmas que por tanto tempo nos assombraram. A gente pode até não gostar de ter o Tiririca como representante, mas antes ver um palhaço formulando leis (talvez até cantando Florentina na sessão) do que corruptos agindo de má fé e achando que os palhaços são os que estão do lado de fora da Assembleia.
* Leandro Czerniaski é acadêmico do curso de História da Unipar de Francisco Beltrão
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